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Star Wars Outlaws - Análise



Ao longo da última década, os movimentos anti-política - ironicamente - têm ganhado uma força política enorme dentro da sociedade, disseminando ativamente propaganda ideológica e uma ideia de que hoje tudo é “woke” e serve a uma agenda ideológica que visa dominar o mundo. É curioso ver como as obras de arte são entendidas por essa imaginação.


Você não precisa nem ter visto o primeiro filme lançado de Star Wars para entender que a franquia inteira é construída em uma lógica política, já que a própria sinopse de “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança” fala explicitamente sobre a defesa da liberdade e justiça. Há conceitos, valores, ideias e posições políticas nítidas na saga desde o princípio. Mas Star Wars Outlaws foi criticado desde o seu anúncio justamente por ser um jogo “politizado”, especificamente pela Ubisoft ter optado por inserir uma protagonista feminina na campanha do jogo. O rosto e o corpo da personagem também foram alvo de misoginia nas redes sociais.


Porém, o que essa visão ignorante e preconceituosa dos autoproclamados perseguidos parece ser incapaz de entender é o potencial da proposta do jogo: controlar uma não-Jedi em um mundo aberto. Pode parecer simples, mas o fato da Kay Vess não ser Jedi é extremamente interessante. Porque, por via de regra, são os Jedis que importam na história: eles são protagonistas, vilões, têm a Força, sabres de luz das mais diversas cores, é a imagem deles que está com o público. Quando se fala de Star Wars, se pensa em Luke, Yoda, Darth Vader, mas nunca se pensa nos civis, as pessoas e criaturas comuns que fazem parte do universo e sofrem as consequências das grandes decisões políticas da guerra nas estrelas.


Com isto exposto, fica óbvio que Star Wars Outlaws tem um grande potencial em suas mãos, especialmente no âmbito narrativo, por causa das boas ideias pouco exploradas que ele se propõe a realizar. Se a Ubisoft conseguiu criar um bom jogo de mundo aberto que faça jus a premissa tão diferente e inovadora para a franquia é o que vamos ver nesta análise.



Isso é absoluto jogo-cinema!


Entre as propostas originais de Star Wars Outlaws, a que eu menos esperava gostar era tentar ser um “tipo um filme”. Para quem não conhece muito de telas, explico de forma breve: por padrão, Outlaws usa a proporção 21:9, que é frequentemente vista em filmes. Com isso, caso você não tenha uma tela com essa proporção - popularmente conhecida como ultrawide - o jogo terá duas barras pretas nesse modo. Você tem a opção de jogar na proporção tradicional em tela cheia como qualquer outro jogo, porém você perde um pouco de campo de visão.


Na minha perspectiva, o ideal é curtir a experiência ultrawide, ainda que você não tenha uma tela ideal para isso. O fato do jogo ter sido pensado para ter esse suporte fez com que muito do level design leva-se em conta que quem está jogando tem um campo de visão maior, então limitar a horizontal para ter tela cheia pode dificultar o controle de áreas muito abertas e com inimigos em extremidades diferentes.


Além disso, não é comum jogos receberem um suporte tão bom ao ultrawide nos consoles. Geralmente, quem busca essa resolução está no PC, onde a popularidade de monitores assim é muito maior. Então, pensando em ter uma experiência diferente da tradicional, é muito mais interessante abraçar a ideia de Star Wars Outlaws em 21:9. 



Jogabilidade de outros universos


O elemento que mais me chamou atenção positivamente sobre Star Wars Outlaws desde o seu anúncio foram os comentários sobre a jogabilidade. Em especial, as previews elogiavam bastante esse aspecto, e jogando fica fácil entender o motivo: Outlaws tem uma gameplay fácil de se compreender, super adaptável - o que é uma qualidade absurda, pois permite o público selecionar como quer que seja sua experiência - e diversificada, lembrando muito o que já vimos em outros jogos, principalmente os da Ubisoft. E bem, é nesse último aspecto que se encontra o principal problema da obra. Para facilitar a compreensão, os principais pilares da gameplay de Star Wars Outlaws são a exploração, o combate, as naves e puzzles simples. 


No primeiro aspecto a Ubisoft joga em casa, é fácil enxergar a franquia Assassin's Creed no parkour, escalada e liberdade para escolher o próprio caminho entre várias opções de se adaptar ao ambiente.


O combate já é um tanto peculiar, bastante focado em ação, mas com uma presença maior de stealth. Este elemento exige uma leitura do ambiente e dá recompensas legais para quem o usa quando é opcional, porém partir para a ação atirando em tudo normalmente é bem mais divertido que ficar esperando uma oportunidade de passar em silêncio. Vale destacar que várias missões exigem uma abordagem de stealh, então a saída mais divertida não está disponível sempre.


As naves são uma novidade muito interessante. Elas permitem você sair voando pelo espaço de forma livre, tendo que lidar com outras naves, destroços e hostilidades do ambiente como neblinas intensas. Os confrontos possíveis nesse modo são simples, basta atirar nas naves inimigas enquanto evita sofrer dano dos tiros, mas é divertido e a sensação que passa é de estar controlando um filme de Star Wars.


Por fim, os puzzles não têm muito o que se comentar sobre, já que a função deles aqui é adicionar uma jogabilidade diferente para ações simples como acessar terminais e abrir contêineres. A distribuição e variedade contribuem positivamente para a experiência. Por exemplo, favorecendo a imersão ao precisar hackear computadores para invadir bases, então no geral é uma boa implantação.


Observando os quatro pilares da gameplay, fica muito claro que Star Wars Outlaws é um jogo bom. Afinal, ele tem uma boa exploração, um combate legal, um sistema de nave divertido e puzzles para descontrair. Mas ser “bom” tem sido mais um fardo para a Ubisoft do que elogio nos últimos anos. 


É paradoxal observar parágrafos de elogio e o desfecho ser negativo, mas qual o sentido de exaltar uma qualidade que já foi repetida em vários jogos da própria Ubisoft nos últimos anos? Um jogo não é só a junção de boas mecânicas com um enredo coerente, os melhores jogos criam coesão entre tudo que mostram. 


Infelizmente, no que diz respeito à gameplay, Outlaws contenta-se em ser desconexo, podendo ser lido como um “Assassin’s Creed de Star Wars”.



É Óscar ou Sessão da Tarde?


Como dito no início desse texto, a premissa por trás de Star Wars Outlaws é inusitada, já que aborda personagens novos e naturalmente pouco interessantes para narrativas grandiosas. Felizmente, eles têm bastante personalidade, então os principais como Kay e Nix e se comunicam bem entre si e seguram o jogo do início ao fim.


Outro destaque são os líderes de organizações, pois eles são bem distintos e ideológicos, mostrando poderes do crime com perspectivas e objetivos diferentes. Quando essas visões entram em conflito, a história deixa claro que não tem nada de bom ou ruim entre os sindicatos, apenas interesses e disputa de poder. E claro, Kay vai ter que saber com quem está se metendo e, assim como ela, você vai ter que prestar atenção para não levar a pior nos negócios do submundo.


As relações com os sindicatos também afetam o enredo principal, não é nada grande como acontece em um jogo focado em escolhas, mas são mudanças legais que valorizam os caminhos que o jogador optar na campanha.

Sobre o enredo em si, ele é o pior aspecto do jogo. Basicamente, Kay é imprudente, se mete em confusão, e daí segue confiando na primeira pessoa que aparece pela frente como se não tivesse aprendido nada com o que acabou de acontecer. Isso tudo só porque a pessoa diz que pode ajudar com o problema da Kay. Veja, ela em si não é o problema, o ruim é que o desenvolvimento de personagem dela está sempre vinculado a traições que surpreendentemente ela nunca espera. É um comportamento razoável para uma criança inocente, não para uma jovem adulta que acabou de ser traída. 


Apesar de tudo, Star Wars Outlaws como um todo funciona, mas não faz jus à sua premissa diferente. Na verdade, de certo modo, ele repete a fórmula das obras com as personagens especiais, porém coloca personagens normais como protagonistas. Então, no fim, trata-se mais de uma boa ideia pouco explorada, mas com seus acertos, em especial a relação de Kay e Nix.



Planetas distintos, estruturas parecidas


Em contrapartida com o enredo, a ambientação é o ápice de Star Wars Outlaws. As naves, os planetas, os speeders, tudo grita “Star Wars” de uma maneira muito positiva. Os fãs certamente vão amar e quem não conhece muito - como é o meu caso - vai ter contato com um mundo que, no sentido visual, não tem nada de genérico. Os planetas são bem característicos, com um bioma bem definido, clima típico e regiões únicas com todo tipo de conteúdo secundário que se pode esperar de um jogo de mundo aberto.


Entretanto, é importante destacar que a estrutura de vários locais é muito similar. As diferenças entre uma base do império e outra são, basicamente, o lugar das salas e a posição dos objetos interativos. É uma construção que faz sentido, mas que vai ser repetida várias vezes em todos os lugares do jogo, mudando basicamente a estética para ser coerente com o local. Apesar do jogo ser curto, com uma campanha de aproximadamente 16 horas de duração, essa repetição pode gerar cansaço.



Roda de boa no PlayStation 5?


Falando brevemente sobre bugs, apenas tive uma ou outra animação inconsistente e um crash na campanha, além de poucas vezes o jogo simplesmente não carregar o save e precisar fechar e abrir de novo para funcionar na versão de PlayStation 5. No geral, nesse aspecto, Star Wars Outlaws poderia ser melhor, mas é bom o suficiente.



É bonito, mas não impressiona


O gráfico de Star Wars Outlaws entrega uma fidelidade um tanto dúbia. Por um lado, ele tem cenas lindas, vale a pena ficar contemplando com o modo foto, por outro, o jogo grita por um mais definição de imagem. Antes de elencar os principais problemas, destaco que joguei no modo performance, então é possível que no modo qualidade você não encontre os problemas que vou listar. 


Em primeiro lugar, os serrilhados incomodam bastante no modo performance. Há também uma singela queda de framerate (FPS) em alguns momentos de ação mais intensa no jogo. As animações são bastante simples, principalmente para ataques corpo-a-corpo, o que torna a ação um tanto sem graça. Mas o principal problema gráfico mesmo está na nitidez das texturas, que não estão borradas, mas não tem um grande nível de detalhes que alguns podem estar esperando de um jogo grande.


No geral, considero o gráfico de Star Wars Outlaws aceitável e, por mais que pudesse ser melhor - e ainda possa vir a ser com futuras atualizações - não é nada que vai comprometer a experiência final.



É divertido ser Fora da Lei 


Star Wars Outlaws foi um jogo que gostei de cobrir em antecipado. A experiência proporcionada pela obra da Ubisoft é divertida e, apesar dos problemas mencionados, acho válida e recomendo para os fãs de Star Wars e Assassin's Creed, os quais provavelmente vão gostar muito do jogo.






Análise escrita por @Athena_Wofel A cópia do jogo foi cedida pela Ubisoft Latam


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