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Persona 3 Reload: Episode Aigis -The Answer



Quando anunciaram que Persona 3 Reload teria uma expansão contendo o epílogo “The Answer”, que antes era conteúdo exclusivo da versão FES de Persona 3, lançada apenas no PlayStation 2, minha reação foi um misto de felicidade e preocupação. A felicidade vem de saber que o jogo teria mais conteúdo e que eu poderia retornar a esse mundo muito em breve, já a preocupação veio por eu achar o final do jogo tão perfeito que qualquer tentativa de continuar a partir daquele ponto era um risco enorme, o que me deixava com um pé atrás. No fim, os meus sentimentos conflituosos tinham algum fundamento.


Tentando seguir em frente


Tentando minimizar ao máximo os spoilers, a expansão começa logo após os eventos do jogo base. Todos estão começando a seguir suas vidas após os eventos do último ano. Há uma melancolia no ar deixada pelo fim da missão: alguns personagens estão se mudando do dormitório, focando nos seus estudos e hobbies para esquecer o que aconteceu. Dessa vez o protagonismo muda para Aigis, um andróide de combate que, ao conviver com os alunos do dormitório, começou a desenvolver sentimentos. Aigis é quem mais sente o fim da sua missão, ela busca um novo propósito na vida, mas não sabe como alcançar.



No dia da grande despedida, algo acontece: o relógio marca meia noite, porém o dia não avança, e o grupo é atacado por outra andróide chamada Metis, que diz ser irmã da Aigis. Quando percebem que estão todos do mesmo lado, eles se vêem presos no dormitório e no tempo. O local está ligado a um lugar sobrenatural chamado de “o abismo do tempo”. Tal lugar contém várias portas que levam a diversos corredores onde eles precisam enfrentar novamente as Sombras para conseguir escapar no final do caminho.


Tartarus de novo?


A premissa da história é bem interessante, mas também é onde os problemas começam. A estrutura da DLC é semelhante à do jogo base, porém a parte social foi bem reduzida. O foco é o combate nas dungeons, que funciona exatamente como a Tartarus do jogo base, mas aqui em vez de ir para cima, descemos no abismo do tempo enquanto o resto permanece igual: são intermináveis andares com layouts criados de forma procedural. O problema aqui é a falta do balanço que eu considero a magia dos jogos da franquia. 


O jogo base é estruturado de modo que você alterna entre a vida de estudante - fortalecendo os laços com os personagens e explorando o mundo real - e a vida noturna, onde o foco é o combate por turnos dentro do Tartarus. Aqui, com a ausência da parte escolar, a experiência fica desbalanceada. Persona sempre soube mesclar as duas facetas da experiência para criar um ritmo que evita fadiga. Quando a parte social começa a cansar, você pode passar algumas horas explorando as dungeons, e vice-versa.


Aqui, logo nas primeiras horas, já começa a cansar, pois não tem nada para equilibrar. O elemento social na DLC é limitado e se resume a itens que você encontra enquanto explora. Eles podem ser usados para liberar um diálogo no dormitório, desbloqueando uma habilidade nova para um dos seus amigos, e fica por isso mesmo. São apenas algumas breves interações novas.



O ritmo inconsistente, infelizmente, é apenas um dos problemas, pois outros começam a aparecer conforme você avança. O principal deles é a falta de novidades no sistema de combate e na exploração. Aigis agora pode usar várias personas - igual o protagonista do jogo base - e temos uma adição à party, sua irmã Metis, que é uma boa novidade no time, mas não muda como ele funciona e não é suficiente para deixar a experiência fresca. 


Isso não seria um grande problema se a expansão fosse curta e a história se desenrolasse de uma forma mais dinâmica.  Só que esse não é o caso, e as partes de história são espalhadas por longas sequências cansativas de gameplay, você desce o Tartatus lutando contra os mesmos inimigos repetitivos nos mesmos cenários o tempo todo. Outra coisa que reforça a sensação de repetição é que - para nivelar a progressão do jogo - todos os personagens voltam para o nível 25. Isso é explicado na história, mas não deixa de ser apenas uma desculpa para diminuir sua força. Após passar quase 100 horas subindo o nível de cada personagem com esforço e dedicação, jogar com eles em um nível tão baixo pode ser desanimador. 



Como citado antes, a história se move a conta gotas, porém - quando ela finalmente chega a algum lugar - é bem feita e desenvolve os personagens, tem vários pontos altos, mas ainda não sinto que consegue entregar algo no mesmo nível dos pontos mais altos do jogo base. Eu sinto que a reta final compensou um pouco a jornada. Aigis com certeza é a melhor parte da história, e vê-la tomando as rédeas da narrativa é gratificante. Mas é difícil não sentir que estenderam bem mais do que deveriam. Levei 20 horas para terminar e não consigo parar de pensar que seria uma experiência muito mais prazerosa se ela tivesse, no máximo, cerca de 5 horas, com mais momentos dos personagens interagindo e desenvolvendo ainda mais a conexão do grupo, novas habilidades e mecânicas para deixar a gameplay menos repetitiva e mesclar melhor a história com a exploração do abismo do tempo. 


Uma hipótese pessoal


Persona como franquia sempre teve jogos tentando tratar de temas profundos e complexos de maneira simples - e em muitos casos até clichê - então talvez eu esteja tentando dar mais crédito ao jogo do que ele mereça. Inclusive, talvez isso seja algo apenas da minha cabeça, mas enquanto eu jogava, a experiência maçante passou a coincidir com os temas que a história queria passar, e há momentos em que os personagens dão mais combustível a essa teoria, de que no fundo, lá no PS2, alguém do time tomou algumas decisões na gameplay para tentar passar a frustração e o cansaço que os personagens estão sentindo, e no remake simplesmente mantiveram isso intacto, de querer sair desse looping, de parar de enfrentar as sombras, de chegar logo no final. Isso reflete na psique do grupo, de não conseguirem seguir em frente com suas vidas e ficarem seguindo fantasmas. 


É aqui que alguns leitores podem estar esperando eu mudar meu tom, e que agora minha persona passará a elogiar caso isso tudo seja proposital, e que o jogo é genial por isso. Mas não, na verdade, mesmo se tudo for de caso pensado, não significa que tenham feito um bom trabalho. Há muitas maneiras de arte te fazer sentir coisas, algumas emoções podem ser atingidas usando vários meios. Então, mesmo que a ideia fosse chegar nesses sentimentos, os meios não foram os melhores e simplesmente não agregou à experiência.


Se a obra faz você questionar se algo foi falta de empenho ou um erro por parte dos desenvolvedores, eu não consigo dizer que atingiram o que queriam. No fim, não passa de uma hipótese que não melhora e nem piora minhas impressões sobre o produto final, mas que achei importante compartilhar porque reflete como me senti com essa DLC.



A resposta para a vida


Mesmo após as críticas, a expansão tem seus bons momentos. Ainda é Persona 3, ou seja, tem a fundação de um ótimo jogo. Um ótimo sistema de combate e visuais, e as adições a trilha sonora são fantásticas. E para quem acha que o final do jogo ficou faltando algo, aqui você vai encontrar esse fechamento. Porém, para aqueles que sentem que não era necessário uma continuação, não acho que esse seja um conteúdo essencial, especialmente pela repetição excessiva, falta de adições significativas ao looping de gameplay e até mesmo na jornada dos personagens.


É difícil negar que, no fim, algumas cenas conseguem te pegar pelo emocional, são capazes até de te fazer derramar algumas lágrimas. Apesar de todas as críticas, acho Episode Aigis uma boa expansão, é uma boa novidade de um jogo excelente.






A cópia do jogo foi cedida pela Atlus


A análise foi escrita por @ceythian

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