Para mim, Hi-Fi RUSH foi o melhor jogo publicado pela Bethesda em 2023. Ele foi desenvolvido pela Tango Gameworks, estúdio responsável pelo renomado The Evil Within e o recente Ghostwire: Tokyo. Essa apresentação deixa uma coisa clara para quem conhece os jogos anteriores: Hi-Fi RUSH é completamente diferente dos jogos que deram popularidade ao estúdio.
O único terror que Hi-Fi RUSH vai apresentar é o medo de perder o emprego por não conseguir parar de jogar para ir trabalhar, o que particularmente me assusta bastante. Medos de adulto à parte, a proposta de Hi-Fi RUSH não é ser um jogo de terror como os títulos anteriores, ele é um título de ação com combate Hack and Slash e aventura 3D combinado com ritmo, o que é incrivelmente original. É fácil pensar em um jogo isolado de ritmo, como um título nostálgico da franquia Guitar-Hero, ou aventura 3D, como clássicos da série Mario, ou com combate Hack and Slash, como o estiloso Devil May Cry, mas quando se mistura todos esses conceitos, Hi-Fi RUSH é a estrela que mais brilha no palco, e foi assim durante todo o ano de 2023.
A fim de ilustrar o quão emblemático é Hi-Fi RUSH, ele recebeu o prêmio de melhor Design de Som no The Game Awards (TGA) em uma disputa com outros títulos de extrema relevância nessa categoria, como Dead Space Remake e Alan Wake II. Além disso, tendo como referência o Opencritic, em 2023, Hi-Fi RUSH foi o 5° jogo mais bem avaliado entre os jogos que receberam críticas para Xbox Series S | X e o 17° entre os jogos que receberam críticas para PC, ambas com média de 89 pontos. Vale ressaltar, inclusive, que ele venceu a categoria de Maior Surpresa do Ano aqui no PS Talk Awards com voto popular. Ou seja, é inegável que se trata de um jogo muito relevante.
Agora que vimos a potência e a relevância de Hi-Fi RUSH, vamos aumentar o som até o máximo para curtir a animação com a fluidez e intensidade mais altas possíveis.
Estamos aqui para rir ou refletir?
Justificar o próprio universo e o que acontece nele é com certeza importante. É uma pena que algumas obras esquecem de fazer isso. Felizmente, esse não é o caso de Hi-Fi RUSH. Tudo começa com a campanha de marketing de uma empresa, a Vandelay, que precisa de voluntários para o projeto Armstrong. Nosso protagonista, Chai, cuja profissão é aspirante a estrela (popularmente conhecido como artista desempregado), é um dos voluntários desse programa. Porém, acontece um problema durante a sua cirurgia e ele se torna um defeito musical - o que também afeta todo o ambiente ao seu redor - graças ao descarte inadequado de seu aparelho de música por um empresário arrogante. A partir daí, a empresa fica enlouquecida atrás do defeito enquanto Chai vai se aprofundando na realidade da empresa sem a maquiagem do marketing feito pela funcionária Mimosa.
Eu tenho certeza que essa não é a primeira e não será a última história sobre empresas que na propaganda são uma coisa e, na prática, são o completo oposto. Muito menos será a última crítica sobre regimes de trabalho predatórios e práticas corporativas abusivas. Contudo, isso não significa que a história não tenha valor ou que não seja pertinente. Vale lembrar que, somente neste ano de 2024, milhares de pessoas foram demitidas da indústria de jogos, e os colegas que ficaram seguem com medo de serem os próximos. Em tempos assim, acusar essa história de “irrelevante” pela sua simplicidade é prepotência em pura forma, uma arrogância incapaz de olhar para a realidade e entender o que está acontecendo com a indústria de jogos que é responsável por muitos jogos que amamos e pelos próximos jogos que queremos ter motivos para amar.
Sintetizando os parágrafos anteriores, a história de Hi-Fi RUSH não vai surpreender ninguém que já teve algum trabalho na vida. Entretanto, ela é capaz de usar o humor e a simplicidade para tecer críticas concretas ao modo de produção de empresas contemporâneas e, apesar do seu foco na indústria de jogos, há críticas que retratam empresas de outras áreas. Portanto, jogue Hi-Fi RUSH de cabeça leve, com abertura para o humor e para as críticas que ele tem a oferecer, pois em ambos os casos a qualidade é alta.
Quer dançar? Quer cantar? O batidão vai te pegar!
Se Hi-Fi RUSH tem um forte, esse é o seu ritmo frenético. Todo o jogo é construído ao redor do ritmo, e isso não é uma hipérbole, literalmente tudo - desde os ataques do Chai e dos inimigos até o cenário e animações - seguem o exato mesmo ritmo em todas as músicas. Com uma sincronização tão fluida e perfeita em diferentes músicas, não é de impressionar que o jogo tenha recebido prêmio de Design de Som em um ano tão disputado.
Alinhado ao ritmo, existe todo o sistema de combate de Hi-Fi RUSH. Fãs de longa data de Hack and Slash já estão acostumados, é o clássico ataque leve, ataque pesado, combinações de ataques leves e pesados em combos diferentes e estilosos que vão destruir seus inimigos, um gancho para se aproximar, esquiva, bloqueio de ataque que, claro, tem um parry embutido e os amados ataques especiais que, quando carregados, vão estourar a placa de som dos seus inimigos.
O grande diferencial do jogo nesse sistema é a integração das mecânicas de ritmo. Você pode sair atacando da forma como quiser livremente que não há punição, mas se você acerta os ataques no ritmo da música, o jogo te recompensa com mais dano, mais estilo e mais pontuação! Se você esquiva ou bloqueia na hora certa, os seus inimigos ficam vulneráveis a contra-ataques dos seus aliados, ou seja, uma boa defesa é um ataque melhor ainda! O combate não é feito para que você fique parado, ele quer que você se mexa e seja a estrela da luta, que dance e bata com a guitarra de Chai até não sobrar um parafuso no lugar.
Por fim, há algumas críticas pontuais a se fazer sobre o sistema de combate. O jogo entrega as mecânicas gradualmente ao longo da campanha - como uma jogadora experiente - afirmo que é sim possível terminar o jogo sem problemas com a distribuição que foi feita, entretanto, eu sinto que o bloqueio demora um pouco para aparecer, dado o quão útil e fundamental ele é para a experiência. Limitar o jogador nesse aspecto acaba sendo negativo porque sobra menos tempo para dominar a mecânica e, para quem só quer zerar a campanha, a experiência nas primeiras fases pode ser potencialmente menos divertida e mais frustrante do que elas de fato são, principalmente na segunda luta de chefe do jogo, já que lá o parry brilha demais e a sua ausência na primeira experiência é um convite para sofrer dano quando não se conhece a sua adversária.
Como está a versão de PlayStation 5?
Faremos aqui uma breve pausa na diversão para abordar aspectos técnicos que julgo muito relevantes para a experiência no PlayStation 5. Em primeiro lugar, acho importante destacar que a latência nos comandos vai ser uma experiência única para cada usuário, já que cada pessoa pode ter uma televisão diferente, ou seja, um input-lag - que é o tempo entre você apertar um botão no controle e você receber a informação do comando de volta - diferente. Tenho uma televisão recente, considerada como um modelo QLED de entrada no mercado brasileiro, e não tive problemas de latência. Muito pelo contrário, aqui na versão de PlayStation 5 do Hi-Fi RUSH é onde as minhas pontuações estão sendo as mais altas justamente porque estou conseguindo acertar mais o tempo do ritmo com o DualSense.
De modo geral, posso afirmar que essa é a melhor experiência jogando Hi-Fi RUSH que já tive mesmo após mais de 150 horas jogadas no PC. Atribuo essa qualidade especialmente a conectividade do DualSense com o videogame. Destaco que nunca joguei com o DualSense na versão de PC, portanto, infelizmente, não posso fazer uma comparação direta de latência entre as versões nesse texto, mas reitero: os resultados jogando Hi-Fi RUSH no PlayStation 5 são os melhores que já tive com o jogo em mais de 150 horas na versão de PC.
Sobre recursos específicos do PlayStation 5, como as features do DualSense, a vibração e a caixa de som acrescentam um volume bacana de imersão na gameplay. Não é algo tão completo como o Astro’s Playroom, porém é um uso legal e que mostra um cuidado bacana dos desenvolvedores nessa versão do jogo. Também testei o Pulse-3D durante toda a campanha e o fone funcionou muito bem, facilitando muito para acompanhar o ritmo da música. No geral, os acessórios da Sony são uma boa pedida para curtir Hi-Fi RUSH.
Entretanto, se o jogo tirou um S em todas as notas de qualidade até o presente momento, é agora que ele erra o ritmo e tira uma nota A pelo grave desafinado. Trata-se, na verdade, de um problema que a Sony criou na geração do PlayStation 5 inteira com a mudança de design dos botões X, Bolinha, Quadrado e Triângulo. Para quem não conhece, do PlayStation 1 ao PlayStation 4, esses botões eram coloridos, e os jogos os representavam com essas cores. No atual PlayStation 5, a Sony optou por deixar tudo com a mesma cor.
O problema que isso gera no Hi-Fi RUSH é que, em sessões que você precisa apertar vários botões de forma rápida em uma ordem específica, cria-se uma camada extra de dificuldade porque a única referência visual para o jogador é o formato dos ícones. Isso não estraga a experiência do jogador, já que ainda é possível reagir a tempo, porém é uma opção de acessibilidade importante e que me ajudou muito na versão de PC a identificar melhor o momento e o botão certo para se apertar, o que não está disponível aqui.
Portanto, apesar de ser um problema de design do PlayStation 5, isso afeta a experiência de quem vai jogar Hi-Fi RUSH e acho que seria injusto com o leitor omitir esse problema de jogar nessa plataforma hoje.
Eu tô indo, cesta de presente!
Aqui o coração de Hack And Slash de Hi-Fi RUSH pulsa com toda a sua energia. O jogo tem três modos extras diferentes que vão explorar o combate que você já amou de formas especiais. Na Torre Rítmica, você enfrentará diversos andares com inimigos diferentes e deve chegar ao topo sem que o tempo acabe ou que sua vida se esgote. No modo Explosão BPMs, você enfrentará um sistema de andares onde a cada andar a velocidade e o ritmo da música aumentam de intensidade, e vai por mim, no máximo é rápido mesmo! Também tem um modo roguelike simples, a Torre Fliperama, onde você pode brincar de subir andares com as regras mais malucas que você possa imaginar.
Além dos modos extras, Hi-Fi RUSH tem coletáveis especiais para serem pegos nas fases, skins para todos os personagens e até conteúdo extra para a campanha principal. Deixo para a curiosidade dos leitores descobrir o que acontece se você completar todos os desafios das salas especiais. De modo geral, Hi-Fi RUSH é um jogo que pega toda a simplicidade do seu conteúdo e extrai o máximo de diversão possível. É verdade que, para alguns, pode parecer um jogo muito repetitivo pela variedade de mecânicas e inimigos apresentada, mas pela duração e conteúdo secundário apresentado, acredito que o jogo é diversificado de forma suficiente, ainda mais considerando sua proposta e gênero.
O Hit das Platinas de 2024
Para quem gosta de um bom desafio para platinar, Hi-Fi RUSH é sem dúvidas um jogo que não pode ser deixado de lado. Em síntese, você precisa completar o mural de atividades do jogo para conseguir o amado troféu de platina. Ou seja, você precisará zerar todas as fases em todas as dificuldades com nota S (você deverá zerar o jogo todo pelo menos 5 vezes), vencer os chefes sem tomar dano, fazer combos, conseguir todos os coletáveis e fazer todo o conteúdo secundário. É, sem dúvida, um troféu de platina que vai ser cobiçado na PSN daqui alguns anos, próximo de nomes emblemáticos como Devil May Cry.
O jogo também conta com os troféus do Arcade Update, uma DLC que chegou cerca de 6 meses após o lançamento do jogo em 2023, em um pacote separado da platina. Particularmente, recomendo que façam ambas as listas, acho inclusive que Hi-Fi RUSH deveria virar uma referência para outros jogos com foco em combate na hora de desenvolver uma boa lista de troféus. Pode ter certeza que todo o conteúdo do jogo está embutido nas listas do jogo base e do Arcade Update.
É uma estrela!
A versão de PlayStation 5 de Hi-Fi RUSH é uma das melhores surpresas do ano. Chega a ser assustador um jogo que já impressionou o mundo em 2023 conseguir replicar o feito em 2024, chegando do nada e abrindo um sorriso no rosto de todo mundo. Para mim, ele é obrigatório para todos os fãs de PlayStation e deve ser jogado por todos na primeira oportunidade que aparecer. Não deixe Hi-Fi RUSH para depois. É com um enorme sorriso no rosto, o mesmo sorriso que não saiu da minha cara durante as inesquecíveis horas que me diverti nessa arte única, que digo no ritmo perfeito: Hi-Fi RUSH é uma estrela!
Análise foi escrita pela @Athena_Wofel
A cópia do jogo foi enviada pela Bethesda Softworks
Hi-Fi RUSH também está disponível para Xbox Series X | S e PC
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