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Dead Space - Análise


Se pararmos para pensar a respeito dos jogos mais influentes e significativos do gênero Survival Horror dos últimos 20 anos, dois títulos vêm rapidamente à mente da maioria das pessoas: Resident Evil 4 (2005), clássico da Capcom e um dos melhores trabalhos de Shinji Mikami, e Dead Space (2008), produzido pela finada Visceral Games e definitivamente um dos melhores seguidores da escola RE4 de jogos de terror com um pé na ação.


Curiosamente, nestes idos de 2023, ambos os jogos estão de volta aos holofotes com seus respectivos remakes - Resident Evil 4, chegando ao mercado em Março, e Dead Space, lançado em 27 de janeiro, sob os cuidados de outro estúdio da EA, o Motive. Com tudo isso e também o lançamento de Callisto Protocol em dezembro do ano passado, jogo do mesmo diretor do Dead Space original, pode-se dizer que os fãs de survival horror estão com os pratos cheios.


Dead Space (2008) é um jogo que eu sempre admirei devido à sua originalidade, uso inteligente do setting da nave USG Ishimura e mecânica de desmembramento dos inimigos - subvertendo a ideia já consolidada de que monstros e zumbis a gente mata com tiro na cabeça - mas que infelizmente nunca terminei, mesmo acompanhando com muita curiosidade toda a história da franquia no sentido de produto mesmo (e lamentando o triste fim da Visceral). Então, quando o remake deste clássico foi anunciado, eu não poderia ter ficado mais feliz, já que seria finalmente uma chance de ter a experiência completa na nova geração e também ver se a Motive fez jus ao que eu lembrava do excelente jogo original.

Dead Space (2023) é, em poucas palavras, uma experiência memorável em praticamente todos os aspectos. Do ponto de vista técnico, ele se prova como um exemplar do que os consoles atuais são capazes de fazer, trazendo tudo o que se espera de um hardware atual: loadings rápidos, iluminação caprichada, performance praticamente impecável e modelos de personagens e inimigos bastante detalhados (embora esse aspecto não seja tão impressionante quanto o que é visto no Callisto Protocol). O trabalho feito pela Motive no sentido de traduzir a estética do DS original para os dias de hoje é admirável na medida em que é difícil encontrar alguma escolha que não seja bem-vinda. Considere por um instante a questão da iluminação, por exemplo. Enquanto o Dead Space original utiliza muito bem o hardware daquela época, é verdade que as áreas escuras não são tão escuras quanto poderiam ser, o que de certa forma diminui a tensão. Já no remake, logo no começo do jogo, temos que passar por uma parte em que somos obrigados a redirecionar a eletricidade para prosseguir com o objetivo, fazendo com que as luzes se apaguem. Somos envoltos no mais completo escuro e temos que iluminar o caminho usando a luz da icônica Cortadora de Plasma ao mesmo tempo que os Necromorfos estão à espreita, gerando um dos meus momentos favoritos do jogo todo e o que primeiro me fez pensar que havia algo especial nesse título. Toda essa evolução técnica contribui de forma coesa para que Dead Space seja uma experiência de tensão quase constante - o que é algo extremamente difícil de conseguir, ainda mais se os desenvolvedores errarem a mão na hora de balancear, já que tal tensão deve ser engajante e não pesada a ponto de afastar o jogador. Alia-se ao visual caprichado do jogo um design de som impecável. Eu não estou exagerando quando digo que Dead Space fica ainda melhor quando jogado com fones de ouvido. Dos detalhes nos efeitos sonoros ao usar o HUD diegético, o som dos tiros de cada arma. a respiração de Isaac Clarke - nome excelente, né? - ficando mais pesada dependendo da situação e de sua saúde (dá até para ouvir os batimentos cardíacos do pobre engenheiro em alto e bom som) até os barulhos nojentos dos inimigos a distância, o trabalho sonoro contribui para que essa versão do pesadelo vivido por Isaac seja ainda mais imersiva e tensa do que era em 2008.


É claro que nem tudo é perfeito, já que próximo do lançamento a versão de PlayStation 5 sofria com alguns bugs de textura e até alguns problemas bizarros que travavam a progressão do jogo para alguns jogadores, mas, felizmente, no momento em que escrevo esta análise, muitos desses problemas já foram corrigidos por patches e é seguro dizer que o jogo continua a ser polido pela Motive no pós-lançamento - o que é praticamente uma obrigação para qualquer estúdio atual.

Em termos de design e narrativa, o remake de Dead Space também faz algumas alterações importantes. Começando pela USG Ishimura: enquanto no original todo o mapa da nave já passava um senso de unidade e de ela ser um lugar que faz sentido arquitetonicamente falando, ainda havia alguns pontos em que as conexões entre salas não faziam muito sentido lógico. Isso foi mudado no remake, que reestruturou diversas áreas e procurou dar uma maior coerência à disposição do mapa. Diversas salas ficaram maiores e ligadas por corredores e com pontos extras que servem como uma forma de mostrar como a Ishimura seria no “mundo real”. O legal disso é que seu mapa agora fica ainda mais próximo de uma Mansão Spencer (de Resident Evil) ou de alguma coisa vinda de metroidvania (aliás, sempre achei que Dead Space puxava algumas coisas de Metroid Prime, seja por esse aspecto da interconectividade e até mesmo pela… fonte usada nos textos dos dois jogos).


A história do jogo permanece quase 100% inalterada, mas com alguns pontos adaptados. Primeiro, Isaac agora fala (coisa que só viria a fazer a partir do segundo jogo da franquia), mas seus diálogos não são intrusivos e servem para melhorar a dinâmica entre o engenheiro e os outros sobreviventes da nave. Durante o gameplay, no entanto, Isaac continua apenas com seus típicos grunhidos. No mais, toda a trama que envolve Nicole, esposa de Isaac, se cobre de novas camadas com a forma que o remake conta diversos acontecimentos.

No quesito combate e gameplay, o remake acerta em cheio ao modernizar a forma como usamos os nódulos para aprimorar as armas e a armadura/vida de Isaac, além das próprias armas agora serem encontradas ao explorar os cenários, de forma muito mais orgânica do que no original (em que eram simplesmente compradas na lojinha do jogo, como no RE4). As armas em si continuam satisfatórias de se usar, com um excelente trabalho de som e de animação, além de toda a dinâmica de desmembrar os malditos Necromorfos - que aqui estão tão bons quanto no original e o jogo ainda implementa um sistema bastante interessante para dosar a hora em que eles spawnam ou não. É claro, nem todas as armas serão usadas por todos os jogadores, mas ter opções diversas é bem-vindo, ainda mais considerando o fator replay bastante sólido do título.

Dead Space (2023) é um daqueles remakes que não se vê todo dia. Embora o jogo original tenha envelhecido bem e ainda hoje seja acessível via retrocompatibilidade em algumas plataformas, a existência desse remake ainda é justificada. Fica claro não só o talento da Motive como estúdio, mas também seu apreço e respeito pelo debut de Isaac Clarke bem como o legado que a trilogia deixou no mundo dos games. Se a qualidade desse remake serve de modelo, que ele seja devidamente seguido para o futuro da franquia e os outros dois jogos sejam revitalizados, dando uma nova vida a uma das franquias mais interessantes da sétima geração de consoles.




Análise feita pelo Carlos (@CharlSmtg)


A cópia do jogo foi cedida pela Eletronic Arts

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