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A Space for the Unbound - Análise

Atualizado: 23 de jan. de 2023

A desconexão com a realidade de uma mente quebrada.


O cenário de jogos independentes se mostra como o último bastião para histórias mais íntimas e pessoais nessa mídia. Não é de hoje que o espaço é dominado pela tentativa de adentrar aos mais complexos estados da mente humana e retratar experiências de vida através de pixels controláveis. Essa abundância de títulos tratando dos mesmos assuntos só não se transforma em algo batido justamente pela liberdade que esse espaço consegue dar a indivíduos que têm algo para contar. Não se trata de decisões baseadas em algoritmos, mas pessoas, e cada pessoa é única com vivências distintas, fazendo cada jogo também ser único, e isso que faz de A Space for the Unbound algo especial.


Desenvolvido pelo estúdio indonésio Mojiken Studio e publicado pela Toge Productions, o game retrata a vida de Atma, um jovem com sonhos estranhos e dificuldade em distingui-los da realidade enquanto lida com seus colegas de classe e acontecimentos estranhos em uma pequena cidade da Indonésia nos meados dos anos 90. A história sendo seu aspecto crucial impõe um desafio: explicar o que faz do jogo especial contando o mínimo possível, pois o mistério é o motor para a trama se desenrolar. O jogo toca em vários assuntos pesados como depressão, maus tratos, bullying, entre outros. Geralmente tratar de tais assuntos é uma tarefa delicada, principalmente para não cometer o erro de apresentá-los de uma forma rasa e até danosa, mas felizmente o jogo consegue ser bem consciente e passar tudo que deseja de uma forma sincera e sensível.

De imediato, o visual é o que mais chama a atenção, tanto pelo seu lindo pixel art quanto pela atmosfera aconchegante de uma cidade simpática do interior. Tudo é retratado com muito carinho e cuidado, há detalhes em todo canto e isso ajuda muito na imersão. Com algumas horas você se sente muito familiarizado com cada rua e consegue se guiar somente pela memória - e é bom memorizar pois o jogo se passa todo nessa cidade e te faz percorrê-la várias vezes para pegar objetos ou conversar com os moradores, esses que são o maior charme do jogo. Cada personagem é distinto e tem suas qualidades, desejos e traumas. Com o tempo você acaba descobrindo mais sobre cada um e os ajudando a resolver seus traumas. O game faz um excelente trabalho em dar importância aos moradores sem ficar monótono, você realmente quer saber mais sobre cada um e ajudar no que for possível.


O jogo é estruturado de uma forma simples, cada capítulo é focado em um personagem secundário e você anda pela cidade resolvendo quebra-cabeças simples, que muitas vezes se resumem a encontrar algum item ou conversar com algum personagem; em outros momentos, o jogo te faz usar um livro mágico que consegue entrar na consciência das pessoas e ver seus traumas representados com elementos abstratos, resolver esses problemas faz a pessoa mudar no mundo real. Os quebra-cabeças são diversos e em muitos momentos em uma quantidade até exagerada, que pode incomodar alguns, mas nada que atrapalhe muito. A cidade é parcialmente aberta logo de início, e com o tempo novos caminhos vão aparecendo, e com isso missões secundárias e colecionáveis que podem te dar contexto para algumas questões da história, nada disso é obrigatório mas é recomendado fazer algumas dessas atividades.

Outras mecânicas presentes são o combate e stealth. O stealth é bem rudimentar e só serve para dar uma diversidade ao gameplay. Em alguns momentos você se questiona se realmente era necessária sua inclusão. Com o combate não é muito diferente: ele se baseia em um mini game de botões, pressionar na sequência certa faz Atma desferir um golpe e pressionar o botão no momento certo faz com que ele se defenda, novamente é algo simplista mas há um motivo temático para a trama, e não é muito utilizado felizmente.


A música é um elemento bem presente no jogo e também uma de suas maiores qualidades. São várias faixas marcantes com uma produção mais elevada do que se espera de um jogo do estilo. Elas complementam muito bem as cenas e em muitos casos as elevam a algo bem especial.

A Space for the Unbound pode parecer um jogo simples e até mesmo comum em um ano que promete ser cheio de grandes lançamentos, e não posso dizer que ele não é um jogo simples, mas o que eu posso dizer é que essa simplicidade não o coloca atrás de nenhum outro lançamento, na verdade é nessa simplicidade que mora seu charme, é o que dá liberdade para contar uma história tão tocante, cativante e criativa, e quanto mais tempo você passa conhecendo esses personagens e entendendo seus traumas e problemas, mais a narrativa te envolve, e no fim é difícil não se sentir completamente conectado e emocionado com essa pequena e linda jornada que te leva de um mercadinho da esquina até aos lugares mais sombrios da mente humana.


Análise feita pelo Gustavo (Ceythian)

A Space for the Unbound foi gentilmente cedido pela Toge Productions

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